Espetáculos

A VELHA CASA DE MADEIRA Teatro Montemuro // Texto e Encenação José Caldas

“Naquela casa de madeira, morava uma velhinha…”

Certo dia aparecendo do nada um velho vem-nos falar a relembrar a sua infância e do seu grande desejo: encontrar a “máquina do tempo”.

Desfaz-se da sua pele poeirenta e revive a primavera da sua vida quando encontrou, escondida na sua casota, uma velha rabugenta. A velha fica surpreendida com tal acontecimento pois chegava- lhe a vida tranquila com os animais que a cercavam. Ignora a criança pois a curiosidade do menino invade sua vida quotidiana tranquila e isolada entregue ao fazer e refazer os fios no seu fuso.

A criança começa também a resmungar nhem-nhem-nhem… e cada dia que volta a velhinha atira-lhe algo para afasta-lo – um nabo, uma maçã, um rolo de fios – está feita a ligação. O rapaz e um amigo seguem o fio do caminho que lhes abre enfim a porta da velha casa de madeira…. começa então uma longa conversa com a velhinha. Aos poucos ela começa a contar o seu passado, e cada história é uma viagem na máquina do tempo.

Todos os dias pela manhã lá estavam as crianças e todos os dias pela manhã a velha rabugenta lá esperava por elas. Seria capaz a velhinha resmungona de começar a conviver com o ser humano? Estaria ela também a relembrar a sua infância?

Um dia as crianças chegam e encontram apenas a melodia dos animais… Que teria acontecido?

 

“…Que vivia, coitadinha, sem ninguém para conversar”

 

A Velha Casa de Madeira é um espectáculo que reflecte sobre o papel dos mais idosos na sociedade contemporânea, valorizando o seu potencial enquanto transmissores da memória cultural e a sua contribuição para uma consciência mais alargada da vida, das vivências e dos diversos modos de pensar, agir e sentir.

A VELHA CASA DE MADEIRA
(Ou a máquina do tempo)

por José Caldas

O texto

O Teatro do Montemuro desafiou-me a escrever um texto sobre o encontro entre um velho e uma criança e os conflitos que dele surgissem. Desafiei-os a ser um encontro entre um menino e uma velha senhora. E assim foi.

Inspirado no realismo mágico de Ray Bradbury, meu autor do coração; na minha poeta predilecta Cecília Meireles e o seu jogo encantatório de palavras; no humor truculento dos Contos Tradicionais Portugueses e nas conversas com senhoras idosas fui compondo este texto. Varias sequências que foram se entretecendo com a delicada música Mary Keith – palavras musicais, música poética. Um texto evocativo da minha infância e da intimidade com a minha avó, as suas estórias e –
[…] “A Estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, às vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.” […]  João Guimarães Rosa.
–  a sua insubmissão ao poder patriarcal. Assim este texto está mais próximo da estória – os casos narrados pela velha senhora – “máquina do tempo”. Ela viaja pelo passado sem nenhuma lógica histórica. Na verdade são apenas fragmentos de poesia e de transcendência, trincadas na maça da vida, das   memórias e  das sensações.

As visitas do rapaz a esta grande mãe isenta de paternalismo é um itinerário iniciático com o passado, o presente e um futuro  para além da morte – uma viagem pelas estrelas com a misteriosa poesia de Jorge Sousa Braga.

 

A encenação

Um teatro para a infância com a confiança e o respeito pela inteligência  do seu público. Um trabalho ao ritmo de várias leituras que poderão interessar também os seus acompanhantes – os adultos. Sem concessões ao infantilismo ou a papa-feita.

Encontrei nos actores esta ressonância: um teatro para um público jovem, mas antes de tudo Teatro.

Três actores em cena, a representar Tal como no  “faz de conta” das crianças – estas precursoras do próprio teatro com o seu jogo distanciado: “agora faço de velha”, “agora sou o menino”, “agora faço de velho”…
Assim uma jovem actriz  faz de conta que é  uma velha senhora fugindo a sete pés aos clichês. Dois actores de 40 anos entram também neste jogo e fazem-se de meninos.

A cenografia imaginada com o Purvim  e a Ruby  torna-nos viajantes nesta máquina do tempo onde a velha senhora habita. Passado, presente e futuro entrelaçam-se no jogo extra quotidiano pontuado pela presença do actor, sonoplasta, iluminador, músico e  projecionista deste  cinema transcendental. Deixamos tudo como um desafio  a ser decifrado pela imaginação dos jovens espectadores.

 

Texto e Encenação José Caldas Cenografia, Adereços e Figurinos Andrew Purvin e Ruby Gibbens Direção Musical Mary Keith Desenho de Luz Paulo Duarte Interpretação Abel Duarte, Paulo Duarte e Rebeca Cunha Construção de Cenários e Adereços Carlos Cal e Maria da Conceição Almeida Costureiras Capuchinhas CRL e Maria do Carmo Félix Ilustração Cartaz Helen Ainsworth Fotografia e Vídeo Lionel Balteiro Direção de Cena Abel Duarte Direção de Produção e Comunicação Paula Teixeira Assistência à Produção e Comunicação Guida Maria Rolo Estagiária Carolina Sequeira